O estudo realizado por um grupo de pesquisadores do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), localizado em São José dos Campos (SP), por meio do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e do Instituto de Pesquisas e Ensaios em Voo (IPEV), em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), teve seu artigo científico publicado na revista britânica Scientific Reports, do grupo Nature, publicação de grande prestígio, que divulga artigos de pesquisadores do mundo todo nas áreas das ciências naturais, medicina e engenharia.
O trabalho intitulado, “Quantitative assessment of pilot-endured workloads during helicopter flying emergencies: an analysis of physiological parameters during an autorotation” - que em português pode ser traduzido como "Avaliação quantitativa das cargas de trabalho suportadas pelo piloto durante emergências de voo de helicóptero: uma análise dos parâmetros fisiológicos durante uma autorrotação" - foi conduzido pelo doutorando do ITA e Gerente Técnico da Divisão de Projetos do DCTA, Coronel Aviador José Ricardo Silva Scarpari e pelo doutorando do Instituto do Cérebro do HIAE, Mauricio Watanabe Ribeiro.
O objetivo da pesquisa foi analisar as reações mecânicas e fisiológicas de um grupo de pilotos durante a autorrotação, manobra utilizada para realizar o pouso seguro do helicóptero, quando há uma falha no motor. “A ideia era a de conhecer as respostas fisiológicas dos pilotos frente à uma grande ameaça, uma emergência real, causada pela falha do motor do helicóptero, com o piloto sendo surpreendido pela emergência, numa técnica que impôs aos pilotos uma tarefa de alta carga de trabalho e concentração, mascarando e impedindo qualquer previsão ou preparação para falha do motor”, explicou o Coronel Scarpari.
Para isso, realizou-se a mensuração dos resultados obtidos por meio dos sensores que avaliaram o tempo de reação, o nível de estresse, os movimentos dos olhos dos pilotos, o nível de suor, a frequência cardíaca e respiratória e, ainda, as alterações emocionais e comportamentais durante a manobra. Tudo realizado num helicóptero AS-350 Esquilo, da Força Aérea Brasileira (FAB), quando onze pilotos com diferentes níveis de experiência e treinamento foram submetidos a voos em condições de emergência simulada, de modo inesperado, sendo todas as suas reações coletadas durante a manobra e correlacionadas com o movimento dos comandos de voo, com opinião subjetiva do piloto, com suas respostas fisiológicas e com o próprio resultado obtido na manobra
Segundo a Professora e Pesquisadora do HIAE, Elisa Harumi Kozasa, o estudo explora a viabilidade de realizarmos medidas fisiológicas em condições críticas em um grupo de pilotos de elite da Aeronáutica. "Quando pesquisamos, por exemplo, a resposta de estresse, isto geralmente ocorre em condições controladas de laboratório e não em ambientes realísticos/ecológicos como tivemos a oportunidade de realizar”, contou.
O foco do estudo está em provar que o fator humano tem grande influência durante a performance, uma vez que o desempenho do piloto, o treinamento, o nível de atenção, os alarmes, as condições atmosféricas, a luminosidade e demais fatores influenciam numa emergência, comenta o Professor Roberto Gil Annes da Silva do ITA, um dos orientadores da pesquisa.
De acordo com o Coronel Scarpari, as normas e referências bibliográficas sobre o tema são essencialmente subjetivas, negligenciando a influência do fator humano durante uma emergência. "Na prática o sistema pode, por exemplo, ser usado no processo de seleção de aviadores para ingresso na Academia da Força Aérea (AFA), ajudando a identificar os padrões almejados, bem como, para avaliação de desempenho para progressão operacional de pilotos, analisando aqueles que apresentam um comportamento fisiológico ou psicomotor compatível para ser instrutor de voo”, conclui o Coronel Scarpari.
Segundo o Professor Donizeti de Andrade, um dos orientadores, o reconhecimento inerente à publicação da pesquisa pela Nature agrega valor inestimável ao trabalho desenvolvido. "O trabalho torna-se uma referência obrigatória para os profissionais da Aviação – seja para aqueles que se envolvem com pesquisa, engenharia aplicada ou operações –, no Brasil e em outros países. Um spin-off natural está na influência que seus resultados passam a ter junto aos órgãos de Certificação Aeronáutica com imagem de marca mundial (em particular a Federal Aviation Administration, FAA e a European Union Aviation Safety Agency, EASA): esses contam agora com apoio científico para adequar seus requisitos e orientações associados à operação de autorrotação”, afirmou.
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Fonte: DCTA, por Tenente Larissa Santos e Coronel Scarpari